Proteção à Venda

Como tirar proveito de acrescentar algo na Internet sem se tornar uma bola de neve pelos seus direitos autorais.

 Por Sérgio Pereira Couto

O que significa realmente o termo “segurança pela internet”? Será que basta apenas uma dúzia de providências em termos de hardware e software para que qualquer conteúdo que aqui seja publicado tenha a proteção necessária para que possamos respirar fundo e esquecer as ameaças de piratas e vírus? Ou será o assunto tão complexo que nem a criptografia quântica parece ser o suficiente para assegurar uma posição de conforto?

Quem mexe com a propriedade intelectual em suas diversas formas sabe que os perigos de se colocar qualquer tipo de conteúdo num site, blog ou fórum é enfrentar uma onda terrível de pessoas que copiam seu texto, publicam em outros lugares e assumem a autoria dos mesmos. Isso quando o “roubo” não envolve cópias de desenhos, ilustrações, animações, vídeos, fotos, entre outros.

Verificar a verdadeira diferença entre o “delito” e a “menção” ao trabalho alheio é o ponto principal para se analisar antes de sair por aí acusando este ou aquele de ter se apropriado de seu trabalho. Como a maioria sabe, a Internet é o meio mais fácil para se montar um negócio, fazer propaganda de si mesmo ou agregar interessados num mesmo assunto. Porém, também é uma “terra de ninguém”: não há leis, nacionais ou internacionais, que façam com que seja um local controlado. Por isso milhares de pessoas querem colocar suas ideias lá, por isso os blogs proliferaram com uma velocidade espantosa e também por isso as redes sociais cresceram e se desenvolveram. Mas, ao colocar uma ideia por lá, como fazer para que os “amigos do alheio” não se apoderem dela, do texto, da foto ou até do crédito que lá está?

As pessoas podem pensar ser “demais” colocar suas fotos em redes sociais e, de repente, verem suas cabeças em outros “corpos”. Ou colocar capítulos inteiros de um livro que levou meses para ser escrito e, de repente, o mesmo texto ir parar numa comunidade ou página do Orkut ou Facebook como de autoria de alguém que nunca nem sabia que existia. Ou melhor ainda: confundirem você com um homônimo (qual não foi minha surpresa ao descobrir que fui muito confundido com um certo Sergio Couto Pereira, que morava no Maranhão e que, pelo jeito, adorava sair com mulheres casadas como se fosse um garoto não-oficial de programa?).

Imaginem quando uma tese, uma dissertação ou mesmo aquele trabalho no qual seu filho tirou 10, entra num site de compartilhamento de arquivos. Uma pesquisa divulgada recentemente por grandes jornais do sul mostrou que, no país inteiro, cerca de 68% dos trabalhos apresentados em sala de aula eram retirados de páginas assim. Dessa forma, um mesmo trabalho foi apresentado pelo menos oito vezes em quatro meses na mesma escola que, por razões de preservação de identidade, é melhor que permaneça no anonimato.

Toda vez que se fala em segurança na Internet a discussão termina em bagunça. Pode-se colocar o firewall mais top de linha, o gerenciador de servidores mais avançado e todos os acessórios para impedir que seu texto, foto ou afins seja “apropriado” por outros. Invariavelmente ele será. E por mais que se cuide da criptografia de determinados sites, os hackers (ou melhor, crackers, hackers que invadem com más intenções) sempre acabam por descobrir uma maneira de se chegar até a informação desejada. Não é à toa que já se parte para criptografias mais complexas (e conseqüentemente mais caras) como a quântica que, ainda assim, mostram que não estão aperfeiçoadas e que necessitam de mais investimentos para que possam finalmente representar um “muro de fogo” que impeça a “apropriação indevida”.

Se você acha que deve compartilhar sua vida na Internet é algo que, caso não faça, te deixará fora dos círculos sociais, bem, de certa forma é mesmo, mas coloque em sua cabeça que nada é particular quando se é postado. A menos, é claro, que se coloque com restrições de acesso. Mas aí de que adianta postar se as pessoas que não te conhecem não terão acesso? O âmago da vida social no ciberespaço é justamente fazer propaganda de si mesmo, marketing pessoal, networking ou seja lá qual for o nome que se dá a essa interação social.

O mercado negro de trabalhos prontos que está à disposição na Internet pode ser um fator que contribui para a queda do ensino nacional e deixa os pais com os cabelos mais em pé ainda. O importante nesses casos não é impor algum tipo de censura, mas sim conscientizar o aluno de que deve pensar por si mesmo e conseguir expor algo seu para que os outros leiam e até mesmo copiem. Se tudo o que é bom é copiado, então isso pode servir como uma espécie de prêmio para que os alunos pensem em se lançar em algum tipo de competição para ver quem é o mais copiado. Claro que não é a solução ideal, mas enquanto não surgir o recurso definitivo para a segurança no ciberespaço, é o melhor incentivo que alguém pode passar para essa nova geração de “crianças virtuais”.

Sérgio Pereira Couto é escritor, jornalista e designer instrucional na Integração Escola de Negócios.

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